joana raquel cardoso
Joana Raquel Cardoso. 30 anos. Docente do ensino básico, 2º e 3º ciclo, das disciplinas de Português e Francês. Exerce funções de docência e apoio pedagógico num estabelecimento privado, Colégio S. José de Bairros.
Gostaria de saber qual é a tua opinião acerca dos hábitos de leitura nos jovens da atualidade. Será que leem o suficiente, ou, pelo contrário, os hábitos ficarão aquém daquilo que seria o expectável?
Eu penso que hoje em dia os jovens em geral têm poucos ou nenhuns hábitos de leitura. Vêm de casa sem esses hábitos criados e a escola também não está a conseguir dar resposta a esse problema.
Quais são as dificuldades que os alunos apresentam e que têm diretamente a ver com a falta de leitura?
As dificuldades são mais notórias no estudo de obras literárias, aquelas que são de caráter obrigatório. É importante, por isso, incentivá-los a fazer a leitura integral dessas mesmas obras em casa, o que infelizmente não acontece, muitas vezes. Apercebo-me, quando inicio o estudo de uma obra, que a leitura está muito hesitante, na generalidade dos alunos; estes não cumprem as regras de entoação, pontuação, os ritmos de leitura. As palavras são desconhecidas e eles mostram grandes dificuldades em entender o que leem. Noto, geralmente, uma grande diferença, ao nível da compreensão, quando passamos de um texto do manual para um excerto de uma obra literária, o que não deveria acontecer. Quem sabe ler…à partida sabe ler tudo.
Tendo em conta estas dificuldades dos alunos, o que pode fazer um professor para incentivar os seus alunos a ler uma obra literária que esteja no PNL (Plano Nacional de Leitura), sendo que muitas delas são de leitura obrigatória?
Eu tenho por hábito, em primeiro lugar, enviar informação aos pais, alertando para a necessidade de aquisição da obra, seja comprando ou requisitando numa biblioteca, envolvendo assim os pais neste processo. Peço também, nessa informação enviada, que o aluno traga o livro consigo para as aulas de Português. Fazemos então a leitura integral da obra na sala de aula. Muito do tempo das aulas é dedicado ao trabalho, treino de leitura, busca de significado daquilo que se lê. Fazemos conjuntamente a análise de excertos, para os estimular para a leitura daquela obra em concreto e de outras que se seguirão.
Se os alunos tivessem hábitos de leitura, o ideal seria fazerem eles próprios em casa a leitura integral da obra e o tempo de aula ser aproveitado para o trabalho de análise da mesma, certo? (Isto, claro, a partir do 2º ciclo do ensino básico)
Sim, isso seria o ideal, mas muitos alunos não têm hábitos de leitura autónoma, e, por isso, a leitura tem de ser realizada em contexto de sala de aula, o que prejudica a seguir o trabalho de interpretação e análise textual. A leitura acaba por retirar imenso tempo à análise, que é também tão importante.
O que é que tu achas que possa estar a falhar e assim contribuir para a falta de leitura?
Os pais em casa deveriam incentivar os seus filhos para a leitura, mas isso, em muitos casos, não acontece.
Apesar da informação enviada aos pais, muitos alunos não trazem as obras literárias solicitadas para a aula. Aliás, essa informação é dada aos pais, no início do ano letivo, e contempla todas as obras a estudar nos 1º, 2º e 3º períodos. Por esta altura, há, no entanto, um número considerável de alunos que ainda não adquiriu a obra literária em estudo. Outros adquiriram-na, mas ainda não iniciaram a leitura da mesma. E isso, obviamente também não ajuda o trabalho do professor. Ainda hoje, por exemplo, tive de informar a Diretora de Turma relativamente a esta situação. Os pais devem ter consciência que se eles não ajudarem o professor neste processo, todas as tentativas sairão frustradas. Por outro lado, compreendo bem que os pais têm uma vida ocupadíssima, que não têm tempo para estar com os filhos. Não quero com isto dizer que este problema se registe em todos os alunos. Também tenho alunos que, sem dúvida, têm este tipo de incentivo em casa, mas, em certas turmas, esse incentivo é quase residual. Esta realidade varia de turma para turma.
Achas que esta realidade é transversal a outras escolas? Ou terá esta situação mais a ver com a zona ou ambiente cultural, social e económico em que está inserida esta escola?
Infelizmente, pela minha experiência, esta situação é transversal a outros estabelecimentos escolares. Não tenho ilusões. Apesar de existirem aspetos sociais, culturais, económicos que variam de região para região, desta zona para aquela, etc. e que contribuem, sem dúvida, para aumentar ou diminuir o problema. Mas, de uma forma geral, esta realidade existe nas escolas e todos os docentes travam, de uma forma ou de outra, esta dura batalha.
Qual será a estratégia adotada por muitos dos docentes teus colegas para solucionar o problema da falta de leitura integral de uma obra, se tivermos em conta que esta é de caráter obrigatório? Tendo em conta também que muitos se debatem, tal como tu, com o problema das dificuldades de compreensão e interpretação na leitura.
Sei de alguns colegas meus que optam por ler com os seus alunos excertos das obras em contexto de sala de aula, treinando e trabalhando unicamente a análise desses mesmos excertos e dando-lhes uma visão mais global da obra. Resolvem-se os questionários do manual. Felizmente, grande parte das escolas já possui vários exemplares das obras literárias obrigatórias, mas o que acontece, muitas vezes, é que as turmas são tão numerosas, que os exemplares não chegam para todos. Por um lado, isso dificulta a leitura autónoma na sala de aula, mas também impossibilita que cada aluno possa levar um exemplar para casa, para fazer a leitura autónoma. E é também por isso que muitos optam por ler e analisar alguns excertos na sala de aula. Muitas vezes, temos que nos cingir aos materiais escolares, como o manual ou caderno de fichas, guião de leitura. Há outro aspeto importante também, e que não é de descurar, é que no ensino privado, o professor terá, regra geral, um pouco mais de autonomia para poder incentivar os pais a adquirirem as obras literárias, já que, no geral, estes têm algum poder de compra, alguma facilidade em adquirir os livros. Muitas vezes, nas escolas públicas, as famílias têm muitas dificuldades materiais, fator que contribui também para esta situação.
Tens alguma esperança de que esta situação possa reverter-se no futuro?
A geração com a qual estamos agora a trabalhar tem, como já dissemos, poucos ou nenhuns hábitos de leitura. O mais lógico, é que esta mesma geração não vá ser capaz de criar nos seus filhos hábitos de leitura. Aquilo que não temos, não podemos dar aos outros. Vejo por isso um processo em cadeia a acontecer. Falta de hábitos de leitura criarão mais falta de hábitos de leitura. E assim sucessivamente…
FIM
Gostaria de saber qual é a tua opinião acerca dos hábitos de leitura nos jovens da atualidade. Será que leem o suficiente, ou, pelo contrário, os hábitos ficarão aquém daquilo que seria o expectável?
Eu penso que hoje em dia os jovens em geral têm poucos ou nenhuns hábitos de leitura. Vêm de casa sem esses hábitos criados e a escola também não está a conseguir dar resposta a esse problema.
Quais são as dificuldades que os alunos apresentam e que têm diretamente a ver com a falta de leitura?
As dificuldades são mais notórias no estudo de obras literárias, aquelas que são de caráter obrigatório. É importante, por isso, incentivá-los a fazer a leitura integral dessas mesmas obras em casa, o que infelizmente não acontece, muitas vezes. Apercebo-me, quando inicio o estudo de uma obra, que a leitura está muito hesitante, na generalidade dos alunos; estes não cumprem as regras de entoação, pontuação, os ritmos de leitura. As palavras são desconhecidas e eles mostram grandes dificuldades em entender o que leem. Noto, geralmente, uma grande diferença, ao nível da compreensão, quando passamos de um texto do manual para um excerto de uma obra literária, o que não deveria acontecer. Quem sabe ler…à partida sabe ler tudo.
Tendo em conta estas dificuldades dos alunos, o que pode fazer um professor para incentivar os seus alunos a ler uma obra literária que esteja no PNL (Plano Nacional de Leitura), sendo que muitas delas são de leitura obrigatória?
Eu tenho por hábito, em primeiro lugar, enviar informação aos pais, alertando para a necessidade de aquisição da obra, seja comprando ou requisitando numa biblioteca, envolvendo assim os pais neste processo. Peço também, nessa informação enviada, que o aluno traga o livro consigo para as aulas de Português. Fazemos então a leitura integral da obra na sala de aula. Muito do tempo das aulas é dedicado ao trabalho, treino de leitura, busca de significado daquilo que se lê. Fazemos conjuntamente a análise de excertos, para os estimular para a leitura daquela obra em concreto e de outras que se seguirão.
Se os alunos tivessem hábitos de leitura, o ideal seria fazerem eles próprios em casa a leitura integral da obra e o tempo de aula ser aproveitado para o trabalho de análise da mesma, certo? (Isto, claro, a partir do 2º ciclo do ensino básico)
Sim, isso seria o ideal, mas muitos alunos não têm hábitos de leitura autónoma, e, por isso, a leitura tem de ser realizada em contexto de sala de aula, o que prejudica a seguir o trabalho de interpretação e análise textual. A leitura acaba por retirar imenso tempo à análise, que é também tão importante.
O que é que tu achas que possa estar a falhar e assim contribuir para a falta de leitura?
Os pais em casa deveriam incentivar os seus filhos para a leitura, mas isso, em muitos casos, não acontece.
Apesar da informação enviada aos pais, muitos alunos não trazem as obras literárias solicitadas para a aula. Aliás, essa informação é dada aos pais, no início do ano letivo, e contempla todas as obras a estudar nos 1º, 2º e 3º períodos. Por esta altura, há, no entanto, um número considerável de alunos que ainda não adquiriu a obra literária em estudo. Outros adquiriram-na, mas ainda não iniciaram a leitura da mesma. E isso, obviamente também não ajuda o trabalho do professor. Ainda hoje, por exemplo, tive de informar a Diretora de Turma relativamente a esta situação. Os pais devem ter consciência que se eles não ajudarem o professor neste processo, todas as tentativas sairão frustradas. Por outro lado, compreendo bem que os pais têm uma vida ocupadíssima, que não têm tempo para estar com os filhos. Não quero com isto dizer que este problema se registe em todos os alunos. Também tenho alunos que, sem dúvida, têm este tipo de incentivo em casa, mas, em certas turmas, esse incentivo é quase residual. Esta realidade varia de turma para turma.
Achas que esta realidade é transversal a outras escolas? Ou terá esta situação mais a ver com a zona ou ambiente cultural, social e económico em que está inserida esta escola?
Infelizmente, pela minha experiência, esta situação é transversal a outros estabelecimentos escolares. Não tenho ilusões. Apesar de existirem aspetos sociais, culturais, económicos que variam de região para região, desta zona para aquela, etc. e que contribuem, sem dúvida, para aumentar ou diminuir o problema. Mas, de uma forma geral, esta realidade existe nas escolas e todos os docentes travam, de uma forma ou de outra, esta dura batalha.
Qual será a estratégia adotada por muitos dos docentes teus colegas para solucionar o problema da falta de leitura integral de uma obra, se tivermos em conta que esta é de caráter obrigatório? Tendo em conta também que muitos se debatem, tal como tu, com o problema das dificuldades de compreensão e interpretação na leitura.
Sei de alguns colegas meus que optam por ler com os seus alunos excertos das obras em contexto de sala de aula, treinando e trabalhando unicamente a análise desses mesmos excertos e dando-lhes uma visão mais global da obra. Resolvem-se os questionários do manual. Felizmente, grande parte das escolas já possui vários exemplares das obras literárias obrigatórias, mas o que acontece, muitas vezes, é que as turmas são tão numerosas, que os exemplares não chegam para todos. Por um lado, isso dificulta a leitura autónoma na sala de aula, mas também impossibilita que cada aluno possa levar um exemplar para casa, para fazer a leitura autónoma. E é também por isso que muitos optam por ler e analisar alguns excertos na sala de aula. Muitas vezes, temos que nos cingir aos materiais escolares, como o manual ou caderno de fichas, guião de leitura. Há outro aspeto importante também, e que não é de descurar, é que no ensino privado, o professor terá, regra geral, um pouco mais de autonomia para poder incentivar os pais a adquirirem as obras literárias, já que, no geral, estes têm algum poder de compra, alguma facilidade em adquirir os livros. Muitas vezes, nas escolas públicas, as famílias têm muitas dificuldades materiais, fator que contribui também para esta situação.
Tens alguma esperança de que esta situação possa reverter-se no futuro?
A geração com a qual estamos agora a trabalhar tem, como já dissemos, poucos ou nenhuns hábitos de leitura. O mais lógico, é que esta mesma geração não vá ser capaz de criar nos seus filhos hábitos de leitura. Aquilo que não temos, não podemos dar aos outros. Vejo por isso um processo em cadeia a acontecer. Falta de hábitos de leitura criarão mais falta de hábitos de leitura. E assim sucessivamente…
FIM